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Dia do Estudante

Após os 60, casal vai à escola pela 1ª vez para aprender a ler e escrever

De mãos dadas é como Dona Rosa (63) e seu Raimundo (64) vão todos os dias para a escola. O casal se comprometeu há um 1 ano e meio a se alfabetizar juntos.

Publicado em 11/08/2023 às 16:40

Dona Rosa e seu Raimundo, 63 e 64 anos respectivamente. (Foto: Evangelista Rocha)

De mãos dadas. É assim que dona Rosa e seu Raimundo Correia vão todos os dias para a escola. Com 63 e 64 anos de idade, respectivamente, o casal se comprometeu há um ano e meio a ser alfabetizado junto e se tornou um exemplo de superação e persistência na terceira idade. É que o sonho de aprender a ler e escrever nasceu mutuamente no coração dos dois e, através da cumplicidade, é nutrido diariamente.

O Dia do Estudante, comemorado nesta sexta-feira, 11 de agosto, traz, anualmente, histórias triviais de crianças, adolescentes e jovens, mas a reportagem deste CORREIO garimpou na Folha 35, em Marabá, a narrativa destes idosos que vão contra o habitual e é capaz de inspirar mais pessoas, independente de suas idades, a se desafiarem. Se todo dia é uma chance nova de aprender, por que não levar ao pé da letra?

A oportunidade só surgiu recentemente. Dona Rosa conta que, como era de costume antigamente, ela casou-se aos 15 e foi mãe aos 16. A dona de casa teve sete filhos e, diante da uma vida muito humilde ao lado do marido, era impossível buscar o conhecimento dentro da sala de aula: “Antes de conhecer o Raimundo, eu também ajudava meus pais na roça”.

Mas, após criar os filhos e presenciarem o nascimento dos 20 netos, a visita da professora Regina Célia no bairro onde moram, há dois anos, foi o suficiente para que decidissem que não era tarde para ocuparem uma cadeira na escola Martinho Motta, na Folha 27. E, como se a história toda já não fosse surpreendente, ela consegue ficar ainda mais interessante quando o casal conta que aproveita a ocasião para irem a pé até o colégio. Uma caminhada dupla e conjunta em mais de 3 quilômetros durante a noite.


A força de vontade do casal é venerável. Dona Rosa narra que, antes de ser alfabetizada, ir à feira era um desafio enorme, considerando que era preciso pedir ajuda para saber o preço de uma alface: “Eu apontava para tudo o que eu queria e pedia para me informarem quanto custava”.

Isso, sim, para ela, era motivo de vergonha. As críticas que enfrentaram e ainda enfrentam por fazerem parte de um meio tão jovializado, só servem de combustível. Ouvir que “papagaio velho não aprende a falar”, nunca desmotivou os dois, que seguem juntos em uma jornada de perseverança onde o etarismo não será um obstáculo.

O sorriso no rosto de ambos estampa o orgulho que sentem ao dizer que, hoje em dia, já conseguem ler faixas, placas e letreiros de ônibus. Para muitos é algo automático, como acordar, mas para dona Rosa e seu Raimundo é uma grande conquista que, não tardou, apenas teve um momento diferente para acontecer.

Alunos-modelo, o casal se dispõe a toda e qualquer atividade que a escola propõe a fazer. De gincana e desfile da pátria, tudo é motivo para confraternizarem juntos e criar memórias afetivas: “Eu digo que a gente vai sim e o Zé também se prontifica”, diz a senhora, se referindo ao marido pelo apelido carinhoso.

Não há tempo para desistir. É o lema que os anciãos levam para a vida, já que encaram a possibilidade com singularidade frente à idade. Eles entendem que se não fizerem, não há quem fará por eles. Em uma realidade em que muitos jovens desistem do mundo acadêmico, alienados pela “TikTokzação”, Rosa e Raimundo optaram por um clichê que tem transformado suas vidas.


E esse bem é algo que eles desejam, também, para os próximos: “Sempre que eu estou indo para a escola e vejo a minha amiga dona Maria em casa, eu a convido para ir comigo e Raimundo”, conta. Mas nem todos possuem a coragem que o casal tem. Coragem essa que tem motivado, inclusive, os docentes que, ao se depararem com eles, de segunda a sexta das 19 às 21h, impressionam-se com a força de vontade ímpar.

Os professores vivem uma troca com Rosa e Raimundo. Ambos detêm um conhecimento originado pela vida que sala de aula nenhuma ensina. Enquanto aprendem o bê-á-bá escolar, ensinam que nunca é tarde para aprender.

Ler e escrever parece ser só o início desse percurso de aprendizado. Durante a entrevista, em diversos momentos, os idosos mencionam a sede pelo conhecimento como algo distante de ser saciado. 




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